Criamos nossa relação com o espaço baseado em experiências
anteriores, o espaço desconhecido é um ambiente em branco, caso ele não tenha
sido apresentado por meio de narrativas anteriores, tudo pode vir a ser. Embora
essa relação possa ser construída no presente, partindo do cotidiano, alguns
espaços, apresentam problemas em seu processo de formação, afetando diretamente
sua fruição.
Ao lidar com um espaço físico, rapidamente
podemos realizar as mais variadas ações, na intenção de remodelar esse espaço,
seja atuando diretamente em sua organização, mudando coisas do lugar,
adicionando ou retirando novos elementos, além disso o próprio pensar pode
influir diretamente na vivência deste espaço. Um novo olhar, novo som, nova
cor, são enumeráveis as ações que podem transformar aquele espaço, nem que seja
na interação subjetiva, que ocorre em consonância com nossos processos mentais.
Podemos simplesmente sair de tais
espaços, já que em muitos casos, a simples saída física deste ambiente seja a
melhor ou menos desgastante opção. O caso se agrava na medida em que a vivência
em tal espaço seja necessária. Nem todos espaços podem simplesmente ser
abandonados, já que no momento atual, criamos diversas necessidades e muitas
delas se sobrepõem ao nosso bem-estar imediato. Nesse caso, voltamos as
primeiras opções de remodelamento e reconfiguração do espaço experênciado.
O espaço desconhecido é neutro, o
espaço vivenciado detêm uma carga memorialística, qual possibilita uma
atribuição de valor, medida pela espécie de fruição que se estabelece como
possível dentro deste espaço. Diante destes postulados, uma questão que emerge
é na possibilidade de vivência em um espaço prisional. Uma prisão em que não se
pode opinar, não há escolha, ele deve ser vivenciado na medida em que se impõe
como uma necessidade do próprio acordar. Assim, há todo momento se é impelido a
convivência com esse espaço, essa delimitação específica que se impôs.
Após as reformulações que se
apresentam na medida do possível, nenhuma sanou o peso dessa espacialidade
bruta, dura, que se impõe como única, sem saída. Desta forma não há
escapatória. Como então viver dentro deste espaço? Deve ser colocada uma
questão de como se foi para lá, já que para uma prisão há agentes envolvidos,
se alguém está preso, somos impelidos a pensar que alguém o prendeu lá. Nosso
foco de discussão não está nesse âmbito prisional físico. O próprio pensar pode
ser colocado como uma prisão, pois sem escolha somos absorvidos por pensamentos
desde o primeiro momento do dia. A voz não se cala, os pensamentos fluem como
uma cachoeira desenfreada, difícil conseguir algo que breque esse fluxo
continuo.
Os pensamentos tornam-se
uma prisão, na medida que se impõe como espaço primordial da existência humana.
O espaço que habitamos em nós mesmos, está impregnado de vivências, desejos,
ideias. Em determinado momento, a interioridade de um sujeito pode ser uma
prisão, na qual ao se debater apenas se machuca. O espaço interior é passível de
diversas mudanças e reformulações, mas como todo espaço, as opções se esgotam.
Na tentativa de sair, como fazer? Sair de si mesmo não é possível.
Após um longo debater-se, a
apatia domina, o espaço imposto não fruído, torna-se uma espera. Espera de
saída do lugar que não se sai. O espaço interior só pode ser saído na medida em
que se crê em proposições metafísicas, logo, no seu contrário a existência se
impõe como única possibilidade de pensar, que atrelado ao peso do pensamento
aprisiona ainda mais.
Diariamente o espaço de delimita,
se volta para seu próprio interior, pensando como ir além, mas vendo essa possibilidade
apenas como o aniquilamento total, e tal possibilidade não parece atrativa
quando se perdeu as fábulas metafísicas. A metafísica não convence, a física
não atrai. O tempo segue, o espaço mantém.
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Joel-Peter Witkin Un Santo Oscuro, 1987, Feldschuh Gallery. |