5.01.2015

Janela: Observação e Imersão

Jan Saudek (1935), Fotógrafo nascido em Praga.

Ele seguiu na contra mão. Primeiramente as coisas pouco a pouco ficaram cinzas, os sabores não lhe interessavam mais. Assistia tudo pela janela. As cenas não lhe interessavam, com caráter blasé via tudo passar, e pelo distanciamento via que nada era permanente. 
Tudo se apagava com o tempo.....
Um dia lhe ocorreu uma ideia: E se ele mesmo se apagasse? 
Não deixasse isso nas mãos do tempo. O maior gesto de autonomia de sua vida. Sair da janela e ir lá fora, esperar que sua existência se finde.

Após realizar essa proeza percebeu que até que o mundo lá fora não era tão ruim, mas talvez por ter ficado tempo demais observando na janela, ele não se surpreendia. Queria se misturar, mas lembrava da sua confortável janela. O retorno não era uma opção, pois já sabia tudo o que a janela poderia lhe oferecer. Continuou um tempo a observar, mesmo imerso ainda observante. Decidiu ir para o lado contrário. A auto destruição era o único caminho.

Se auto destruir era na verdade o caminho para a construção de algo. Construía na medida em que se desfazia. Se desmontou e viu coisas diferentes, embora ainda assim fossem fracas, nem se comparavam com o que ele esperava. Mas seguiu assim, lembrava da época da janela, sentia saudades.

Quanto mais perto do abismo, mais atraído ele era. E no salto final se libertou. Isso ele jamais viu pela janela, jamais havia sentido antes. Nem a janela, nem o mundo lhe pareceram tão excitantes como no salto final. E assim ele foi apagado. Hoje ninguém lembra do seu nome, nem de sua voz.