5.01.2015

Resenha: Barroco, Esplendor e Naturalidade.


Ernst Hans Josef Gombrich (1909 — 2001) foi um dos mais célebres historiadores da arte do século XX, especialmente por seus estudos sobre o renascimento. A História da Arte, publicado pela primeira vez em 1950 em Londres e é um dos livros mais adotados em cursos de História da Arte ao redor do mundo. Aqui no Brasil está em sua 16° edição pela editora LTC. O autor já foi feito Membro do Império Britânico em 1966, cavaleiro em 1972, e membro da Ordem do Mérito em 1988 e agraciado com muitas outras honrarias.

Originalmente dirigido para leitores adolescentes A História da Arte vendeu milhões das cópias e foi traduzido em mais de 30 línguas. O livro então tornou-­se referência no campo da História e Crítica de Arte. Entre seus diversos capítulos existem dois que discorrem sobre o tema do Barroco, sendo leitura primordial para os interessados no tema, o capítulo dezenove intitulado “Visão e Visões: Europa Católica, Primeira Metade do Século XVII”, e o vinte e um denominado: “Poder e Glória 1: Itália, Final do Século XVII e Século XVIII”.

Esses dois capítulos apresentam muitos dos conceitos que utilizamos hoje para compreender o Barroco, período tão dúbio e que nas palavras do próprio autor “não é nada simples de identificar” (GOMBRICH, 2000, p.268). A palavra barroco era um termo pejorativo em sua época, como Gombrich nos diz no trecho a seguir:

A palavra "barroco" foi um termo empregado pelos críticos de um período ulterior que lutavam contra as tendências seiscentistas e queriam expô­las ao ridículo. Barroco significa realmente absurdo ou grotesco, e era empregado por homens que insistiam em que as formas das construções clássicas jamais deveriam ser usadas ou combinadas a não ser do modo adotado pelos gregos e romanos. Desprezar as severas normas da arquitetura antiga parecia, a esses críticos, uma deplorável falta de gosto — daí terem rotulado o estilo de barroco. (Idem, Ibid.)

O capítulo dezenove então vai nos apresentar o conceito básico do que seria o Barroco, reccorendo a noções e obras do fim do século XVI e início do XVII. O Barroco se opõe ao idealismo renascentista e visa encontrar as formas naturais como se apresentam ao olhar. Tem como ênfase a luz e a cor, optando ainda pela utilização de composições mais complexas. O autor vai citar diversos artistas que são referência em arte barroca, como Caravaggio e Velásquez, entre outros. Caravaggio pintou os discípulos com aspecto de trabalhadores comuns, sendo condenado de naturalista, de fato ele o era, os discípulos eram trabalhadores comuns. Velásquez vai transformar os retratos em pinturas impressionantes, fixando o real muito antes da invenção da máquina fotográfica.

O capítulo vinte e um dará um recorte maior, focando na arquitetura Barroca do século XVIII onde o Barroco já estava plenamente desenvolvido. Os edifícios barrocos são super ornamentados e teatrais, as igrejas ganham um ar festivo, com esplendor e movimento. É interessante ver as duas vertentes contrárias, onde os protestantes pregavam contra a ostentação e a igreja católica romana recrutava cada vez mais o poder dos artistas. O conjunto possui efeitos cênicos, o grupo de elementos sempre visam a emoção. A escultura por sua vez também é explicitada, e o capítulo traz exemplos clássicos da intensidade das expressões barrocas. Segundo Gombrich há uma “intensidade da expressão facial jamais tentada na arte” (Idem, p.306), isso pode ser atestado com as imagens que acompanham o texto. No século XVIII os artistas eram encarados como exímios decoradores de

A leitura da obra insere o leitor nas discussões mais importantes da história da arte barroca, sendo uma ótima introdução sobre o tema, relacionando o aspecto histórico e social do período, apresentando os mais importantes artistas, obras, técnicas e diferenciações. A crítica de arte tem ai uma ótima fonte para poder relacionar o barroco com outros períodos e ainda conhecer seus maiores nomes para futuras pesquisas. Para entender os períodos subsequentes na história da arte é imprescindível compreender as descobertas e mudanças ocasionadas pela arte barroca italiana, sendo assim necessário a leitura da obra de Gombrich.

GOMBRICH, Ernst, Hans.“Visão e Visões: Europa Católica, Primeira Metade do Século XVII” in: A História da Arte. (16° Ed. ) São Paulo: Editora LTC, 2000.

__________. “Poder e Glória 1: Itália, Final do Século XVII e Século XVIII”in: A História da Arte. (16° Ed. ) São Paulo: Editora LTC, 2000.