5.16.2015

Greenberg e Pollock: Palavra & Ação

Clement Greenberg ( 1909 –  1994)


Clement Greenberg foi um influente crítico de arte dos Estados Unidos, tido por alguns como o mais importante crítico de arte do século XX. Sua trajetória se funde com a de Jackson Pollock (1912 —1956) e a do expressionismo abstrato. Greemberg sempre carregará consigo o nome de Pollock e vice versa, já que “descobriu” tal artista em sua segunda exposição individual. No Brasil foram publicados dois livros primordiais para a compreensão de tal autor.


1- GREENBERG, Clement. Ensaios Críticos. São Paulo:  Cosac Naify, 2013. Publicado originalmente em 1961, Arte e cultura é a única coletânea de ensaios organizada por seu autor, Dividido em cinco partes, que abordam a relação entre arte e sociedade, literatura e, principalmente, a produção e o legado de artistas modernos e contemporâneos centrais, o livro contém alguns dos textos que deram fama a Greenberg, como “Vanguarda e kitsch” e “Pintura de ‘tipo americano’”.
2- COTRIM, C. FERREIRA, G. Clement Greenberg e o debate crítico. São Paulo: Zahar Editor, 1997. O livro é dividido em duas partes - a primeira reunindo os textos mais representativos de Greenberg, a segunda trazendo uma seleção dos mais relevantes ensaios sobre sua obra.


Greemberg estudou na Universidade de Siracusa, onde se graduou em letras, em 1939 publicou seu primeiro ensaio, Avant-Garde and Kitsch, que atraiu muita atenção ao declarar que o Modernismo era uma forma de combater o rebaixamento cultural causado pela propaganda capitalista. O ensaio também foi uma resposta à destruição da chamada arte degenerada pelos nazistas. Não obteve muito êxito nos escritos teóricos, atuou como editor da revista Comentary  por mais de treze anos, onde alcançou grande reconhecimento. Autoditada inaugurou um campo quase inexistente nos EUA, sua crítica alçou vôo de grandes artistas.
Crítico inicialmente com posições de esquerda segue o caminho de muitos intelectuais brasileiros, que com o aumento da fama vão tendendo à posições conservadoras. Sua produção principal foi redigida até os anos 60. Grande parte justifica a diminuição de seu alcance devido o seu receio com o pós-modernismo. Talvez um dos maiores críticos do século XX tenha caído em descrédito devido ao seu dogmatismo em relação a arte contemporânea  a si.
Acredito que esse detalhe é complexo na vida de um crítico, já que durante a sua carreira ele é obrigado a se pautar em algumas verdades, e sobre elas constrói um edifício dogmático. O reconhecimento da necessidade de aperfeiçoamento é talvez a única saída contra a obsolescência da crítica. Não que ele tenha que em algum ponto abrir mão de suas opiniões, modificar partes chaves do seu pensamento, apenas que o alerta se deve ao fato de não se fechar para as novidades e mudanças em um campo tão mutável quanto o da arte localizada temporalmente.
Embora possamos encarar a crítica como algo temporal e social, não tendendo ao eterno. A obra pode ser atemporal, mas sua critica sempre será localizada geograficamente e temporalmente. Ainda lemos os clássicos, eles sempre terão algo a nos dizer, porém a potencialidade de tal discurso só se faz integral em sua época e local. Não apreendemos a totalidade da crítica, nem mesmo da obra.  A obra porém é dotada de uma atemporalidade, que sempre a realoca no tempo presente, a crítica por sua vez pode se tornar obsoleta.
Abandonando devaneios vamos voltar a falar sobre Greemberg. Mesmo com um “modelo” ultrapassado Greenberg conquistou seu lugar na cultura internacional, e passou grande parte da vida em conferências e exposições ao redor do mundo. Embora nos últimos dez anos de sua vida não tenha publicado nada. Talvez seja o reconhecimento do esgotamento de suas chaves ou apenas a adesão ao descanso. Esse fim não importa, apenas falar sobre ele já parece uma imposição da lógica intelectual produtiva de nossa época.
Em 1945 aos 33 anos Greemberg escreve uma crítica sobre Pollock, e esse passa a ser considerado por ele “o mais forte pintor de sua geração”. [Pollock nasceu em 28 de Janeiro de 1912. Homem de personalidade volátil e tendo vários problemas com o alcoolismo. Desenvolveu uma técnica de pintura, criada por Max Ernst, o 'dripping' (gotejamento), na qual respingava a tinta sobre suas imensas telas; os pingos escorriam formando traços harmoniosos e pareciam entrelaçar-se na superfície da tela. Pintava com a tela colocada no chão para sentir-se dentro do quadro. Pollock parte do zero, do pingo de tinta que deixa cair na tela elabora uma obra de arte. Além de deixar de lado o cavalete, Pollock também não usa mais pincéis.


A arte de Pollock combina a simplicidade com a pintura pura e suas obras de maiores dimensões possuem características monumentais. Com Pollock, há o auge da pintura de ação (action painting). A tensão ético-religiosa por ele vivida o impele aos pintores da Revolução mexicana. Sua esfera da arte é o inconsciente: seus signos são um prolongamento do seu interior. Apesar de ter seu trabalho reconhecido e com exposições por vários países do mundo, Pollock nunca saiu dos Estados Unidos. Morreu em um acidente de carro em 11 de agosto de 1956. (Wikipédia)].

  Em 2000 foi lançado um filme bibliográfico dirigido e protagonizado por Ed Harris, que se preparou 10 anos para o papel e obteve duas indicações ao Oscar, uma delas na categoria de melhor ator. A sinopse é:

Em agosto de 1949, a revista Life publicou em sua capa uma manchete dizendo: "Jackson Pollock: Será ele o maior artista vivo dos Estados Unidos?". Já conhecido no mundo da arte de Nova York, Pollock agora passava a ser conhecido nacionalmente como a primeira celebridade americana no mundo das artes plásticas e seu estilo corajoso e radical de pintura ditava os rumos da arte moderna. Mas os tormentos que atingiam Pollock em toda sua vida e que o ajudaram no início de carreira a criar sua arte original começaram a afligí-lo cada vez mais. Lutando contra si mesmo, Pollock entrou então numa espiral decadente que fez com que destruísse seu casamento, sua promissora carreira e sua própria vida.



Curioso como inicialmente um crítico formalista com tendências conservadoras admire um trabalho que de inicio pareça nada clássico. Porém ai se revela uma dos maiores trunfos de Greenberg frente a outros críticos de sua época, ele era original na medida em que analisava e escrevia sobre aquilo que era interiormente tocado, assim era envolvido pelo seu fluir. O espaço pictórico perde seu interior, porém onde alguns só viam perdas ele viu o ganho, a explosão em direção ao expectador. A primazia da forma sobre a matéria, o pictórico para além da base material.
O expressionismo abstrato foi o primeiro movimento especificamente americano que alcançou notoriedade mundial, e junto com a eclosão de tal movimento veio o reconhecimento de  Greenberg e Pollock. Uma outra curiosidade é o fato de Pollock ter sido aluno de Diego Riviera, assim sendo de grande importância para ele a base dos muralistas revolucionários mexicanos.  Uma análise mais detalhada pode estabelecer relações entre esse fundo comum. Há tendências de esquerdas no primeiro Greenberg e influências em Pollock. Resta nos saber se a politica teve algum papel mais fundamental na vida de ambos. Isso até o presente momento não saberia responder, mas fica anotado conosco a título de curiosidade e quem sabe possíveis desdobramentos para pesquisas futuras.