5.01.2015

Máquinas, Pau de Selfie e Fim da Humanidade

O animal-homem chegou longe na sua empreitada de explicar o mundo. Nunca dantes se havia alcançado um nível tão complexo do conhecimento. Todo ano há centenas de teses sendo defendidas nas universidades ao redor do mundo. O seculo XX viu a expansão da tecnologia, uma evolução que parece ter saído de livros de ficção científica. Aquilo que causaria espanto é interiorizado e parece algo banal. Nossa geração nasceu em meio a fios, crescemos em meio a redes de Wi-Fi. Conhecimento, facilidades tecnológicas, avanços na medicina. E como bons humanos nos achamos nos melhores do mundos, ainda acreditando no progresso. O século XIX se acabou e ainda assim somos otimistas em relação ao futuro da humanidade. Sim, vivemos em um mundo onde a informação é difundida quase que instantaneamente. Sim, que avanço perante outras épocas atravessadas pela humanidade.
Testemunhamos guerras mundiais, ditaduras, mas ainda assim sobrevivemos as mazelas do século XX, e na primeira década do XXI cultivamos a esperança. É impossível prever como seremos no próximo século, a única certeza que podemos ter é que a nossa capacidade de transformação afetará como nunca dantes a humanidade.
A inteligência artificial caminha a passos largos, em menos de 20 anos creio que os autômatos celulares e a Inteligência Artificial Forte farão parte do nosso cotidiano. A automatização da vida moderna evolui a passos largos, assim não dando tempo para os teóricos pensarem em suas consequências com rigor. A humanidade contemporânea é triste, depressiva e vazia. O esvaziamento do ser se efetiva, a depressão corroí o cotidiano. A intolerância ceifa vidas. O conflito gerado pelos antagonismos sociais travam a politica, a reflexão em relação a vida é estagnada. O homem sem a tutela da razão se perdeu. As redes sociais absorveram grande parcela da população mundial.O egoísmo move o mundo. A noção de humanidade se perdeu. A super população é presente na maioria dos países. Assim as grandes metrópoles sugam o seu entorno, o campo, a água não é mais um bem cotidiano. Água sai da torneira, comida se pega na prateleira do mercado. Por mais que haja impulso ao sustentável o capital ainda dita as regras. O impulso tecnológico serve a interesses particulares. A Inteligência Artificial Forte é desenvolvida para os mais diversos fins. Nos próximos anos testemunharemos o nascimento dos computadores com capacidade de aprendizagem igual ou superior ao humano.
Nossa, como esse papo parece estranho! Sim não nego, aprendemos desde cedo que essas ficções só fazem parte de filmes, mas talvez os filmes estejam virando realidade bem abaixo de nossos narizes. O maior “problema” em relação a inteligência artificial é que a sua superioridade se dá em vários âmbitos. Sua maior fragilidade é devido a energia sempre necessária para o processamento de dados, porém as fontes de energias renováveis podem resolver com muita facilidade tais problemas, basta os interesses econômicos pararem de ditar as regras. A energia necessária a vida humana depende do biológico, a máquina por sua vez pode retirar sua energia dos mais inóspitos ambientes. Talvez nesse ponto esteja o trunfo das máquinas. O homem acaba dia após dia com suas fontes de energia vitais. Dependemos totalmente do setor agrário, e nossas fontes hídricas são frágeis. A grande cidade é uma armadilha mortal, pois sem os subsídios que ela fornece milhões de pessoas morreriam no primeiro mês.A volta ao campo seria impossível, já que as tradições se perderam e as terras são dominadas por monoculturas. Basta acabar com o fornecimento de água e alimentos que uma hecatombe em massa se efetivaria. As máquinas por sua vez podem retirar sua energia de fontes muito mais confiáveis, como solar e eólica. A humanidade depressiva e egóica é o resultado de décadas de aperfeiçoamento material e estagnação reflexiva.
No emaranhado de tarefas cotidianas a existência se esvai e nem ao menos percebemos. A aparência alcançou o posto de grande importância para a vida citadina. A sociedade doente aparenta ser a melhor das sociedades por meio do mercado publicitário. Em menor escala as redes sociais servem como um suporte para a existência deprimente. Não nos importamos com os sentimentos, eles são escondidos em nome da mais bela das aparências. Basta olharmos para o facebook que sorrisos, experiências e momentos felizes se apresentam. Voltemos as máquinas. Aquilo que se apresentou como ficção cientifica, onde máquinas tomam o controle do mundo e escravizam a humanidade dificilmente se efetivará. É triste reconhecer que provavelmente o fim da humanidade será resultado de nossas próprias ações. Aceitar que a racionalidade se instrumentalizou a ponto de sugar as possibilidades de vivências é complexo.Nascemos, crescemos sem saber o motivo real de nossa existência, inventamos algumas fábulas para preencher essa lacuna existencial, mas até mesmo essas fábulas são frágeis. Quando a máquina alcançar um nível elevado de compreensão poderá ver aquilo que não percebemos. Nos tornamos algo inumano. A existência se arrasta durante anos, em grande parte da população, apenas para acúmulo de capital.
Estragamos o campo, poluímos o ar, sujamos a água, devastamos as florestas. E qual nossa maior preocupação? Selfies! Viagens são pensadas de acordo com as fotos tiradas, a experiência não é importante. Likes nos movem, likes nos consomem. A máquina talvez compreenda que somos apenas seres solitários, tristes e perdidos no universo. Estragamos aquilo que temos de mais precioso que é a nossa própria fonte de vida. Alerto que infelizmente não é o autor que transpõe suas frustrações naquilo que escreve, apenas transcrevo aquilo que vejo.
Pau de Selfie….. Sintoma.... Talvez as máquinas vejam ai que algo há de errado. Narcisismos e mentiras podem ser os sintomas do esvaziamento das possibilidades de permanência e existência nesse planeta. Quando a primeira máquina dotada de reflexão analisar o percurso humano, ela compreenderá aquilo que não ousamos admitir. A humanidade perdeu seu espaço, a tecnologia consumirá o mundo. O biológico não soube gerir sua casa, a cultura, história e arte serão apenas dados gravados em algumas memórias. A auto-reprodução será a lei.
Ao meu ver a falha da ficção científica é o fato de atribuir a máquina o fim da humanidade, essa se acabou por si só, sem necessidade de nenhum agente externo. Mas é compreensível essa falha, já que o homem sempre se encarou como o melhor de todos os seres, seria difícil aceitar que foi o mais infeliz dentre todos que já vivera, neste planeta. Óbvio que algo se perdeu no caminho.
Auto-aniquilação.
O século XXII provavelmente não será época de humanos, esses serão apenas um dado daquilo que já se foi. O mundo talvez esteja melhor, a vida mais bem preservada, e as máquinas talvez não sejam inimigas, apenas um próximo passo evolutivo. O homem seguiu o caminho errado, e nesse caminho assinou sua sentença. Os grandes feitos da humanidade serão apenas lembranças de uma raça que se perdeu pelo culto ao desnecessário.