5.05.2015

Ficção Científica e a Ascenção dos Romances Planetários

Acredito que o cinema comercial americano entrou em uma nova fase. A primeira década do século XXI nos presenteou com as mais diversas maravilhas tecnológicas, claro que não entraremos aqui na discussão do acesso a tais tecnologias, porém é inegável que mesmo que grande parte da população não possua muitas das “maravilhas” tecnológicas, ao menos sabem como é seu funcionamento básico.  O cinema teve uma fase aurea da Ficção Cientifica focada em Inteligência Artificial como O Homem Bicentenário (1999), A.I. (2001) e Eu Robô (2004), alcançando assim grandes sucessos de bilheteria nas últimas décadas, porém defendo uma tese de que nos últimos anos o interesse do grande público vem diminuindo na medida em que esse enredo não é mais tão ficcional como aparenta. Por questões metodológicas dividiremos os filmes de ficção cientifica em  dois subgêneros, embora essa classificação seja muito tênue, nossa divisão consistirá em Filmes de Ficção Cientifica baseados na Inteligência artificial, e os romances planetários que são uma fantasia científica que consiste em aventuras em um ou mais planetas exóticos, caracterizados por cenários físicos e culturais distintos. Embora nos Romances planetários exista a presença de Inteligência Artificial a trama não gira em torno dela.
Tivemos nos últimos dois anos grandes produções, mas o investimento não alcançou a popularidade esperada por tamanha empreitada. Podemos usar como exemplo, Transcendence (2014) estrelado por Johnny Depp que foi um dos poucos que exploraram de forma interessante a temática, porém com um final fraco, sendo ofuscado por I Origins (2014) de Mike Cahill. A última produção que chegou a obter grande êxito foi Her (2013) de Spike Jonze, que chegou a concorrer ao Oscar de Melhor filme, e confesso aqui que era meu preferido, levou consigo o Oscar de melhor roteiro, um dos principais prêmios, dado a um roteiro  baseado em Inteligência Artificial Forte. Porém sua excelência ao meu ver foi explorar as relações humanas, a Inteligência Artificial não foi a questão que guiava o filme, mesmo o entorno da questão sendo a Samantha.

Her é apoiado em questões humanas de relacionamento e solidão. Dessa forma o roteiro brilhante se apoiava apenas na interpretação de Joaquin Phoenix e de Scarlett Johansson, que não utilizou seu belo rosto para um dos seus melhores papéis. Efeitos especiais são quase inexistentes, e o cenário é magnifico.
Mas vamos nos voltar a minha questão central, meu interesse aqui é ressaltar o declínio que tal enredo está enfrentando, que vai além das péssimas escolhas de produtores e diretores. Por outro lado os romances planetários como, Gravidade (2013) e Interestellar (2014) alcançaram grande sucesso, seguindo o Avatar (2009), que tem uma aguardada sequência sendo produzida para 2017. A inteligência artificial vem perdendo espaço para os romances planetários.
Não estou entrando em méritos históricos, devido a isso não vou discutir filmes clássicos embora ache que para uma análise mais rigorosa seja fundamental, porém esse não é meu objetivo aqui, quero apenas lançar luz para algumas questões.
A inteligência artificial vem perdendo público, talvez não por uma má administração das produtoras, o próprio público pode estar mudando, já que quem busca filmes de tecnologia quer algo para além da realidade já dada. Entre uma inteligência artificial não tão ir(real) e explorações planetárias, a segunda opção pode parecer mais atraente segundo a sua distancia da realidade do expectador. Nos próximos anos acredito eu que surgirão cada vez mais filmes baseados em explorações planetárias do que os puramente baseados em Inteligência Artificial. Esta que se diluirá cada vez mais nos filmes de romances planetários, deixando de ter um papel central.
Aguardemos para ver o que acontecerá nos próximos anos. Essa questão ainda poderá ser muito analisada pelos cinéfilos e teóricos do cinema.  Apenas o tempo poderá nos mostrar qual caminho será trilhado pelo cinema comercial mundial. Porém toda minha reflexão se iniciou na com base no filme O Destino de Júpiter (2015).
Matrix (1999) é uma ficção cientifica que foi dirigida pelos irmaõs Wachowski, foi um sucesso de público e crítica, porém suas sequências não caíram muito ao gosto do público, porém o sucesso marcou a carreira de todos envolvidos no projeto e até hoje é um marco do cinema das últimas décadas.
Agora imaginem uma receita culinária onde você tem ótimos ingredientes e um bom cozinheiro.  Ainda assim não é garantido que o resultado seja um prato de sucesso. Foi algo similar ao que aconteceu com os irmaõs Wachowski em O Destino de Júpiter.  O declínio criativo dos irmãos já vinha sendo anunciado desde A Viagem (2012), onde Tom Hanks e Halle Berry não conseguem salvar a trama.
O elenco de O Destino de Júpiter traz Mila Kunis que teve uma ótima performance em Cisne Negro (2010), Eddie Redmayne com seu recente Oscar de melhor ator pela Teoria de Tudo (2014), Tuppence Middleton de O jogo da Imitação (2014).
Poster de O Destino de Júpiter.
 Channing Tatum embora não traga grandes atuações no currículo se esforçou para salvar o filme, porém com o roteiro disponível, nem mesmo Meryl Streep poderia fazer muita coisa.
Voltando a referência da receita em O Destino de Júpiter parece aquela massa do Spoletto, onde juntamos muitos ingredientes bons e o resultado é desanimador. O valor gasto pelas produtoras em tal mistura foi de aproximadamente $ 176.000.000,00 e no final de semana de sua abertura obteve pouco mais de  $ 18.000.000,00.
Os personagens são fracos, sem profundidade e ingênuos. A protagonista após reinvidicar seu título de “Dona da terra” (sic!), aceita em poucas horas casar-se com seu filho, mesmo estando claro que existem diversas conspirações a sua volta. O 3D deixou grandes marcas no filme, já que a versão 2D tem repetitivas cenas  em slow motion. A protagonista é salva várias vezes de uma queda livre, sempre no último minuto e por um soldado geneticamente modificado, hibrido de lobo e homem.  
A produção deve ser mais atenta enquanto a execução de alguns projetos. O gênero romance planetário deve ser amplamente debatido, assim evitando que caia em desgraça. O expectador deve ser encarado como um agente critico, e não apenas como público comedor de pipoca. Os roteiros devem ser a peça primordial que guie a cena, e os efeitos especiais não devem se sobrepor a trama.
O problema dos irmaõs Wachowski foi menosprezar a capacidade de intelecção do público, achando que apenas aderindo a um sub-gênero em ascenção como o romance planetário estariam em direção a um grande épico interplanetário. A fotografia do filme é o único ponto positivo, devido as belas e futuristas locações. Esse ponto é fundamental para a compreensão da ânsia de sucesso dos irmãos, onde a ambição fica clara na amplitude das cenas. O triste é que de encontro com a imensidão das locações é a imensidão do fracasso já anunciado de tal franquia. 

Die Antwoord é uma banda sul-africana de rap-rave
 cujo estilo é inspirado em Roger Ballen, e a cultura Zef . 
Vamos aguardar Chappie (2015) de Neill Blomkamp, talvez ele consiga repetir o feito de Distrito 9 (2009). A estréia do grupo sul-Africano de rap-rave, Die Antwoord no cinema é uma grande promessa, já que o trabalho do grupo é expresso por clipes bem produzidos que alcançam milhares de acessos no youtube.